CRIANÇAS TROCAM TAMPINHAS POR LIVRO NO DISTRITO FEDERAL

Postado em 7 de março de 2016

Tampinhas que valem livros

Biblioteca Pública do Itapoã estimula barganha de obras. Moradores podem trocar 20 tampas de garrafa PET por um exemplar

Fonte: Agência Brasília

Foto: Toninho Tavares/Agência Brasília
Tampinhas que valem livros

Atualizado em 29 de fevereiro, às 15h56

As funcionárias da administração cuidam do acervo, mas não são bibliotecárias, atividade que requer curso superior

Na Biblioteca Pública do Itapoã, a moeda é uma tampinha de garrafa PET; a mercadoria é um livro; e o valor e o lucro são o conhecimento adquirido. Na região administrativa — a aproximadamente 25 quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto —, com 20 tampinhas é possível ganhar um livro. Estima-se que, em um mês, 500 obras foram negociadas pelo sistema de barganha. Quanto mais pessoas buscam exemplares, mais se deseja fornecer.

O escambo literário começou com a união de dois projetos: Tampa Mania (doações de tampas) e Livro por Livro (troca de um livro por outro). Ambos foram idealizados pelas funcionárias da administração regional que comandam o acervo, Rozângela Rodrigues da Silva, de 49 anos, e Lilia Valéria Correa, de 40 anos. “O que a gente mais quer é ver isso aqui cheio”, afirma Rozângela, ao apontar para as cadeiras de estudo.

Sem experiência no ramo, as duas começaram a exercer a cuidar do acervo no segundo semestre do ano passado. Foi da simples vontade de que o espaço servisse como um ambiente de socialização para as crianças e os adolescentes. “O Itapoã é uma área de vulnerabilidade. Temos de estar atentos com as crianças nas ruas”, justifica Lilia.

Essa é uma das principais preocupações dela. A funcionária conta que é ex-presidiária e que, até 2008, esteve na Colmeia (prisão feminina do Distrito Federal). Hoje, estuda direito em uma faculdade particular de Brasília e sonha ser promotora.

Segundo Lilia, o objetivo de incentivar a leitura é reduzir a possibilidade de influências negativas para as crianças do local. Ela explica que a barganha não é com os exemplares do acervo, mas com volumes doados à biblioteca para essa finalidade.

Incentivo
Além da troca, as funcionárias desenvolvem oficinas de reciclagem com as crianças. São brinquedos e enfeites construídos com CDs, garrafas PET e outros produtos reutilizados. “Qualquer criança pode participar. É só ter idade para usar a tesoura”, brinca Rozângela. Com as ações, a biblioteca passou a receber por volta de 30 frequentadores diariamente, inclusive estudantes para concursos. Antes, a média era de cinco em um dia.

Os trabalhos desenvolvidos no local ainda são novidade na região administrativa, onde 68,96% da população não estudam e 44,3% têm ensino fundamental incompleto. Os dados são da última Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios do Itapoã, divulgada em 2014 pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Os índices reforçam o desafio da administração para estimular o hábito de ler, e as ações têm apresentado resultados positivos. “Isso aqui era morto. Tinha até apostila de 1990 para o exame da Ordem dos Advogados do Brasil”, compara Lilia.

Segundo Rozângela, a cada 15 dias, as duas separam exemplares e levam ao restaurante comunitário — vizinho à biblioteca — para divulgar o espaço. “É sempre na sexta-feira, porque tem feijoada.” Elas vestem-se de palhaço e adotam as alcunhas de Lika (Lilia) e de Rosa Brilhante para chamar a atenção de quem passa. Contam histórias e criam momentos lúdicos para a criançada.

Família
As inovações deram certo. Há um mês, Ana Carolina Félix, de 10 anos, tem sido uma frequentadora assídua da biblioteca. Ela conta que lê diariamente cinco livros e ainda leva o irmão caçula, Guilherme, de 5 anos, como companhia. Branca de Neve e os Sete Anões e Aventuras da Barbie são os livros preferidos da garota, que vai à biblioteca no turno vespertino e já está preparada para mudar o cronograma com a volta às aulas na próxima segunda-feira (29). “Aí, eu venho de manhã”, responde com um sorriso.

“As crianças trazem as famílias, que também gostam daqui. E assim a biblioteca vai, de boca em boca, se espalhando pela cidade”, acrescenta Lilia. De fantasias e com flores nos nomes, Lilia e Rozângela tentam educar e preparar os moradores do Itapoã para que os espinhos não sejam tão duros.

Biblioteca Pública do Itapoã
Quadra 61, ao lado do restaurante comunitário
De segunda a sexta-feira, das 8 às 20 horas; no sábado, das 8 às 12 horas
A administração cede um veículo para buscar exemplares em qualquer lugar do DF. Além de livros, aceitam-se filmes (VHS e DVD)
Contatos: Lilia (61) 9316-7731 e Rozângela (61) 9182-8328

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